O crescimento da industrialização no Brasil proporcionou a inclusão
da mulher no mercado de trabalho
São diversas as desigualdades existentes na sociedade brasileira. Uma
das mais evidentes refere-se às relações de gênero, menos relacionada à questão
econômica e mais ao ponto de vista cultural e social, constituindo, a partir
daí, as representações sociais sobre a participação da mulher dentro de espaços
variados, seja na família, na escola, igreja, nos movimentos sociais, enfim, na
vida em sociedade.
Nas últimas décadas do século XX, presenciamos um dos fatos mais
marcantes na sociedade brasileira, que foi a inserção, cada vez mais crescente,
da mulher no campo do trabalho, fato este explicado pela combinação de fatores
econômicos, culturais e sociais.
Em razão do avanço e crescimento da industrialização no Brasil,
ocorreram a transformação da estrutura produtiva, o contínuo processo de
urbanização e a redução das taxas de fecundidade nas famílias, proporcionando a
inclusão das mulheres no mercado de trabalho.
Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) realizada
pelo IBGE em 2007, a população brasileira chega a quase 190 milhões de
brasileiros, com a estimativa de 51% de mulheres. Segundo dados do IBGE de 2000,
a PEA (População Economicamente Ativa) brasileira, em 2001, tinha uma média de
escolaridade de 6,1 anos, sendo que a escolaridade média das mulheres era de
7,3 anos e a dos homens de 6,3 anos.
Uma constatação recorrente é a de que, independente do gênero, a pessoa
com maior nível de escolaridade tem mais chances e oportunidades de inclusão no
mercado de trabalho. Conforme estudos recentes, verifica-se, mesmo que de forma
tímida, que a mulher tem tido uma inserção maior no mercado de trabalho.
Constata-se, também, uma significativa melhora entre as diferenças salariais
quando comparadas ao sexo masculino. Contudo, ainda não foram superadas as
recorrentes dificuldades encontradas pelas trabalhadoras no acesso a cargos de
chefia e de equiparação salarial com homens que ocupam os mesmos
cargos/ocupações.
Ainda nos dias de hoje é recorrente a concentração de ocupações das
mulheres no mercado de trabalho, sendo que 80% delas são professoras,
cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas ou trabalham em serviços de
saúde. Mas o contingente das mulheres trabalhadoras mais importantes está
concentrado no serviço doméstico remunerado; no geral, são mulheres negras, com
baixo nível de escolaridade e com os menores rendimentos na sociedade
brasileira.
Segundo o Seade – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, do
governo do Estado de São Paulo – quanto ao “comportamento do desemprego
feminino na Região Metropolitana de São Paulo, observa-se que, em 1985, essa
taxa era de 15,5% para as mulheres e de 10,1% para os homens, aumentando, em
2000, para 20,9% e 15,0%, respectivamente. Isso significa que na RMSP [Região
Metropolitana de São Paulo], em 2000, uma em cada cinco mulheres que integravam
a População Economicamente Ativa, encontrava-se na condição de desempregada.”
O total das mulheres no trabalho precário e informal é de 61%, sendo 13%
superior à presença dos homens (54%). A mulher negra tem uma taxa 71% superior
à dos homens brancos e 23% delas são empregadas domésticas. Necessariamente, a
análise da situação da presença feminina no mundo do trabalho passa por uma
revisão das funções sociais da mulher, pela crítica ao entendimento
convencional do que seja o trabalho e as formas de mensuração deste, que são
efetivadas no mercado.
O trabalho não remunerado da mulher, especialmente o realizado no âmbito
familiar, não é contabilizado por nosso sistema estatístico e não possui
valorização social - nem pelas próprias mulheres - embora contribuam
significativamente com a renda familiar e venha crescendo. O que se conclui com
os estudos sobre a situação da mulher no mercado de trabalho é que ocorre uma
dificuldade em separar a vida familiar da vida laboral ou vida pública da vida
privada, mesmo em se tratando da participação no mercado de trabalho, na
população economicamente ativa.
Orson Camargo
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São
Paulo – FESPSP
Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
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